Em que mundo vivemos? 
Coluna de Dom Antonio Carlos Rossi Keller
Publicado em 09/06/2023 às 14:54h
Capa Em que mundo vivemos? 

Olhando ao nosso redor, nós cristãos podemos nos dar conta de que é preciso ter uma visão realista e comprometida da vida, para podermos viver conforme o que Deus espera de nós.  A visão negativista do mundo e da realidade é totalmente ruim para qualquer pessoa. É difícil conviver com uma pessoa que vê tudo sempre com tonalidades negativas. Da mesma forma, uma visão “angelista” da realidade cria pessoas que acabam vivendo em um mundo irreal, de sonhos, onde tudo parece sempre ir às mil maravilhas.  3f5d3

O cristão é chamado a ser realista, a desenvolver padrões de avaliação da realidade capazes de fazer julgamentos equilibrados sobre o mundo ao seu redor, sobre as pessoas, sobre si e, sobretudo, sobre Deus. E a realidade de sua fé, enraizada na vida, nunca lhe permitirá condenar o mundo, olhando-o como se estivesse de fora. Em vez disso, ele abre o seu coração para os males existentes, com os quais ele reconhece e se identifica, sempre procurando lutar contra eles com os meios que Deus coloca à sua disposição. Esta é uma das exigências do Batismo. 

No Evangelho deste Domingo (Mateus 9,9-13), vemos como o olhar dos fariseus da época de Jesus os tornava juízes do comportamento alheio, colocando-se fora desse julgamento, como se não pertencessem àquele mundo dos “pecadores”. 
Comer com pecadores, nos tempos de Jesus (hoje também não será assim?), compartilhando a mesa com eles, procurando ir ao encontro de seus valores errôneos, para entendê-los, buscando convertê-los para a verdade, significava pecar. 
A maneira como Jesus convida Mateus, o cobrador de impostos, não apenas choca os presentes, mas é verdadeiramente revolucionária por minar o padrão de como se deve tratar alguém que é considerado um pária. Ele não apenas chama e convida os pecadores, mas também se convida para a mesa deles. 

Jesus nos ensina que só assumindo o pecado dentro de mim ou em solidariedade com o mal que existe ao meu redor, posso entrar no processo de conversão. É isso o que Ele espera dos cristãos e da Igreja.  Jesus não nos quer como juízes dos outros, mas que tenhamos a mesma atitude em relação aos considerados pecadores: que a Igreja e cada um de nós exerça o julgamento de Deus que chama à sua mesa os pecadores em vez de justos, para que se convertam e tenham a vida eterna. Mateus, o cobrador de impostos, imediatamente seguiu Jesus. Ele se levantou e seguiu o Senhor. 

Os Evangelhos contam o básico: Jesus viu e chamou. As palavras de Jesus tiveram um efeito imediato.  Por sua vez, Jesus não teve medo de se manchar com os pecados dos que o seguiram. A bondade de Jesus “contagia” os pecadores, afastando-os do poder do pecado. O seguir Jesus significou para Mateus deixar para trás todo o pecado. 

Afinal, ao citar as palavras do Profeta Oseias, que escutamos também na 1a Leitura (Oseias 6,3-6) “quero o amor e não sacrifícios”, Jesus estava na linha do que os profetas ensinavam, e os fariseus se esqueceram disso. Reduzir o cristianismo à observância de rituais e mandamentos, como os fariseus fizeram à fé judaica, é transformá-lo em uma caricatura muitas vezes ofensiva do próprio Jesus. Não é essa a razão da frequente falta de credibilidade em relação à fé cristã">