
A Solenidade da Ascensão do Senhor é um momento de contemplação e ação. Celebramos a glorificação de Jesus, que, após cumprir sua missão terrena, retorna ao Pai, levando consigo a nossa humanidade redimida. Este mistério não é somente o fim da presença visível de Cristo, mas o início de uma nova forma de sua presença entre nós, através do Espírito Santo e da Igreja. 2n6l5u
Como nos recorda o Evangelho de Lucas, Jesus envia seus discípulos como testemunhas, prometendo a força do Espírito para guiá-los (Lucas 24,46-53). A Ascensão nos desafia a não ficarmos "olhando para o céu" (Atos 1,11), mas a sairmos em missão, anunciando o Evangelho com coragem e alegria. Hoje, também somos chamados a refletir sobre nossa responsabilidade de comunicar a fé, especialmente no contexto do 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais.
O livro dos Atos (Atos 1,1-11), escrito por São Lucas, começa com a narrativa da Ascensão, conectando a vida de Jesus à missão da Igreja. Jesus, após sua ressurreição, a quarenta dias preparando os discípulos, falando do Reino de Deus e prometendo o Espírito Santo.
A pergunta dos apóstolos — “Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?” — revela uma visão ainda limitada, focada em expectativas políticas. Jesus, porém, redireciona o foco para a missão universal: “Sereis minhas testemunhas… até os confins da terra” (Atos 1,8). A Ascensão, simbolizada pela nuvem que o oculta, é um ato divino que aponta para a glória de Cristo e o início do tempo da Igreja, guiada pelo Espírito. Somos desafiados a deixar de lado nossas visões estreitas e a abraçar a missão de levar o Evangelho a todos.
São Paulo, em sua carta aos Efésios (Efésios 1,17-23), nos convida a pedir a Deus um “espírito de sabedoria e revelação” para compreender a esperança à qual fomos chamados. Ele destaca a supremacia de Cristo, elevado acima de todo poder e colocado como cabeça da Igreja, a qual é seu corpo.
A Ascensão não é apenas um evento celestial, mas a garantia de que Cristo governa a história e a Igreja, enchendo-a com sua presença. Esta leitura nos lembra que nossa missão como Igreja está fundamentada na certeza de que Cristo está vivo e atua em nós, capacitando-nos a sermos seus instrumentos no mundo.
No Evangelho de Lucas (Lucas 24,46-53), Jesus resume sua missão: sofrer, ressuscitar e enviar os discípulos a pregar o arrependimento e o perdão dos pecados em seu nome. Ele promete o Espírito Santo, que os revestirá de força, e os abençoa antes de ser elevado ao céu.
Os discípulos, longe de ficarem tristes, retornam a Jerusalém “com grande alegria”, louvando a Deus no templo. Este trecho nos ensina que a Ascensão não é uma despedida melancólica, mas uma fonte de alegria e missão. Jesus não nos abandona; Ele nos confia a tarefa de continuar sua obra, sustentados pela promessa do Espírito Santo.
A mensagem do então Papa Francisco para o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais, intitulada “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações” (1 Pedro 3,15-16), nos convida a comunicar o Evangelho com autenticidade, humildade e respeito.
O Papa destacava que a comunicação cristã deve ser marcada pela mansidão, refletindo a esperança que brota da fé em Cristo ressuscitado. Em um mundo marcado por polarizações e conflitos, somos chamados a ser pontes, anunciando a Boa Nova com palavras e ações que promovam a paz e o diálogo.
Esta mensagem ecoa o chamado da Ascensão: assim como os discípulos foram enviados a proclamar o Evangelho, nós também somos chamados a usar os meios de comunicação — sejam eles tradicionais ou digitais — para partilhar a esperança que vem de Cristo, sempre com caridade e verdade.
Santo Agostinho, em seu Tratado sobre o Evangelho de João, oferece uma reflexão profunda sobre a Ascensão:
“Se Ele não se afastasse corporalmente, veríamos sempre seu Corpo através de olhos carnais e não chegaríamos a crer espiritualmente; e esta fé é necessária para que, justificados e beatificados por ela e tendo o coração limpo, mereçamos contemplar esse mesmo Verbo de Deus em Deus” (In Ioannis Evangelium, Tractatus XCIV, n.5).
Agostinho nos ensina que a Ascensão de Jesus não é uma perda, mas uma graça. Ao subir ao céu, Cristo nos liberta da visão meramente física e nos convida a uma fé mais profunda, que enxerga sua presença espiritual na Igreja, nos sacramentos e na missão. Essa reflexão nos desafia a viver a Ascensão como um chamado à maturidade espiritual, confiando na promessa de Jesus: “Eu estarei sempre convosco até o fim dos tempos” (Mateus 28,20).
Irmãos e irmãs, a Ascensão nos convida a sermos uma Igreja missionária. Não podemos ficar parados, “olhando para o céu”, mas devemos descer às realidades do mundo, levando a mensagem de esperança e salvação. Como comunicadores da fé, somos chamados a usar nossas palavras, ações e até mesmo as redes sociais para partilhar a alegria do Evangelho com mansidão. Que o Espírito Santo, prometido por Jesus, nos ilumine e fortaleça para sermos testemunhas fiéis de Cristo em nossa família, trabalho e comunidade.
Nesta Solenidade da Ascensão, celebramos a vitória de Cristo e nossa vocação de sermos seus missionários. Que a reflexão de Santo Agostinho nos inspire a viver uma fé espiritual e madura, e que a mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais nos motive a comunicar a esperança com mansidão. Peçamos ao Espírito Santo que nos guie, para que, como os discípulos, possamos voltar de cada Eucaristia com “grande alegria”, louvando a Deus e anunciando sua Boa Nova. Amém.